segunda-feira, 2 de julho de 2012

CONSTITUIÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL

Como explanei em outras oportunidades, o Mundo Espiritual está constituído dos planos Superior, Intermediário e Inferior, cada um formado de três níveis, perfazendo um total de nove. A diferença entre eles é determinada por dois fatores: a luz e o calor.

No nível mais alto do Plano Superior, a luz e o calor são extremamente intensos; o nível mais baixo do Plano Inferior caracteriza-se pela ausência desses elementos; o Plano Intermediário situa-se entre os dois, correspondendo ao Mundo Material. Neste mundo existem pessoas felizes e pessoas infelizes; isso equivale a estarem respectivamente nos Planos Superior e Inferior.

Como no nível mais alto do Plano Superior a luz e o calor são muito fortes, seus habitantes vivem quase nus. Poderão ter uma idéia disso lembrando que, nas estatuetas búdicas, Nyorai e Bossatsu são representados no estado de seminudez. À medida que se desce para o Segundo Céu, Terceiro Céu, etc., a luz e o calor diminuem. Se um espírito fosse repentinamente elevado do Plano Inferior para o Superior, seria ofuscado pela luz intensa e não suportaria o calor; preferiria, então, retornar ao Plano Inferior. Isso é idêntico ao que acontece no Mundo Material: uma pessoa de baixa categoria elevada a uma posição alta sem ter merecimento, tem mais sofrimentos do que satisfação.

No Plano Superior, a divindade mais alta e mais sagrada é Deus. Toda organização religiosa tem uma divindade padroeira e também um fundador. Exemplifiquemos com o xintoísmo: na seita "Taisha-Kyo", o padroeiro é Okuninushi no Mikoto; na seita "Ontake-Kyo", é Kunitokotati no Mikoto; na seita "Tenri-Kyo", é Tohashira no Kami. O budismo também serve como exemplo: na seita "Shinshu" é Amida Nyorai; na seita "Zen-Shu" é Daruma Daishi; na seita "Tendai" é Kanzeon Bossatsu; etc. Os fundadores de seitas, como Kobo, Shinram, Nitiren, Honen e outros, situam-se na classe de líderes de cada comunidade. Assim, ao entrarem no Mundo Espiritual, os espíritos das pessoas que tinham religião durante a vida terrena ligam-se à organização a que elas pertenciam, e não se pode calcular o quanto são mais felizes que os espíritos dos descrentes. Estes, não tendo uma organização à qual filiar-se, ficam perdidos, extremamente confusos, vagando pelo Mundo Espiritual.

Desde épocas remotas fala-se sobre "espíritos errantes", porque tais espíritos ficam perambulando pelo Plano Intermediário. Uma vez passando para o Mundo Espiritual, aqueles que não reconhecem a sua existência e não crêem na vida após a morte, não podem se fixar em nenhum lugar, ficando privados de inteligência e juízo durante certo tempo. Como exemplo, citarei um caso ocorrido há alguns anos.

Numa reunião de pessoas que pesquisavam fenômenos espirituais, o espírito de um homem muito famoso manifestou-se, através de um médium. Chamaram, então, a esposa do falecido, a qual, pela maneira como o espírito falava e agia, confirmou que realmente se tratava do marido. Fizeram-lhe muitas perguntas, mas as respostas não eram corretas nem lúcidas, apesar do seu nível de cultura no Mundo Material. Isso acontecia porque aqui neste mundo ele não acreditava na existência do Mundo Espiritual. Vemos, pois, que é necessário o homem crer na existência do Mundo Espiritual e, assim, preparar-se para a vida após a morte.

Mas será que existe realmente aquilo que chamo Plano Superior, mais conhecido como Céu ou Paraíso? A maioria das pessoas pensa que não passa de fantasia dos homens de eras passadas, porém eu estou absolutamente convicto de que ele é uma realidade.

Há uma estória nesse sentido. Faz muito tempo, um sacerdote budista de alta categoria e um catedrático discutiam sobre a existência do Inferno e do Paraíso após a morte. Ao final da discussão, o sacerdote concluiu que eles existem, e o catedrático, que não existem. Enfim, alegando que para ter certeza não havia outro meio senão morrer, o religioso sugeriu que ambos se matassem, e em vista disso o catedrático se rendeu.

O assunto não é para brincadeira, mas, embora o sacerdote budista estivesse com a verdade, se pudermos conhecer o Mundo Espiritual sem recorrer a esse extremo, será muito melhor, não é mesmo?

Citarei alguns fenômenos que pude comprovar através das minhas próprias experiências.

Uma senhora de trinta anos, esposa do diretor de uma empresa, solicitou a minha ajuda por estar gravemente enferma. Como já tinha sido desenganada pelo médico, seus familiares me suplicaram que a salvasse.

Ela residia a cerca de quarenta quilômetros de distância, razão pela qual não me era possível visitá-la com a freqüência que o caso requeria. Por isso, trouxemo-la imediatamente para a minha casa. Pensando na possibilidade de acontecer o pior durante a viagem, o marido também veio com ela no carro. Eu, ao mesmo tempo em que a segurava com uma das mãos, ministrava-lhe Johrei com a outra.

Chegamos sem que houvesse acontecido nada daquilo que nos estava preocupando, mas, pela madrugada, fui tirado da cama pelo acompanhante da doente. Fui vê-la imediatamente. Segurando minha mão com força, ela me disse: "Sinto que algo vai sair de mim e estou com muito medo. Deixe-me segurar sua mão. Tenho o pressentimento de que vou morrer hoje. Chame meus familiares com urgência".

Telefonei-lhes incontinenti, e, quando eles chegaram, acompanhados do médico da firma onde o marido da senhora trabalhava, já tinha decorrido uma ou duas horas. A essa altura, ela estava em coma e com o pulso bastante fraco. O médico examinou-a e disse que era questão de horas.

À noite, rodeada pelos familiares, a enferma continuava em estado de coma. De repente, mais ou menos às vinte horas, abriu os olhos e começou a olhar à sua volta, como se não estivesse entendendo nada. Por fim explicou: "Fui para um local muito bonito, tão maravilhoso que nem sei como descrevê-lo. Era um jardim todo florido, onde estavam muitas pessoas de rara beleza, e lá no fundo divisei um senhor de ares nobres, semelhante à figura de Kanzeon Bossatsu que se vê em pinturas sacras. Ele olhou na minha direção e sorriu. Fiquei tão grata, que me prostrei no chão, mas logo recobrei os sentidos. Agora estou me sentindo muito bem, como não acontecia desde que adoeci".

No dia seguinte, ela não tinha mais nenhum sofrimento; estava salva, embora continuasse fraca. Após um mês mais ou menos, recuperou completamente a saúde. Esse exemplo nos mostra que o espírito daquela senhora se separou do corpo por alguns instantes e foi para o Céu, sendo purificado dos seus pecados por Kanzeon Bossatsu.

Outro exemplo.

Uma jovem de aproximadamente vinte anos foi curada de tuberculose pulmonar em estado gravíssimo, mas, depois de aproximadamente um ano, teve uma recaída e faleceu. Essa jovem tinha um irmão mais velho, vadio e viciado em bebida. Um dia, dois ou três meses depois que ela morreu, estando sentado no seu quarto, ele notou uma espécie de fumaça ou neblina roxa a uns dois metros à sua frente, no alto. Essa nuvem começou a descer devagarinho, e acima dela, de pé, ele viu sua falecida irmã. Olhando bem, notou que ela estava muito mais bonita do que quando era viva; vestia-se elegantemente e irradiava uma nobreza divinal. Ela, então, lhe disse carinhosamente: "Vim para aconselhá-lo a abandonar a bebida. Pense no bem da nossa família e no seu próprio e deixe o álcool". Dizendo isso, subiu novamente na nuvem e começou a elevar-se até desaparecer.

Decorridos alguns dias, aconteceu a mesma coisa, e o fato tornou a se repetir pouco tempo depois. Na terceira vez, surgiu diante do rapaz uma bela ponte curva, toda pintada de vermelho, e a irmã, descendo da nuvem, atravessou essa ponte e lhe disse: "É a terceira vez que venho. A partir de hoje não terei mais permissão para vir. Esta é a última vez". Depois disso, o fato não se repetiu. Através desse caso, vemos que é possível ter "visões" temporariamente.

Mais um exemplo.

Um rapaz de vinte e poucos anos sofria de uma doença que poderíamos classificar de psíquica. Nessa época, ele estava loucamente apaixonado por uma mulher que trabalhava num bar noturno, e os dois iam suicidar-se juntos. Entretanto, a um passo da tragédia, tive a grata felicidade de salvá-los, pois encontrei, no bolso do rapaz, o veneno que ambos iam tomar.

Levando o casal para minha casa, examinei-os espiritualmente. Segundo constatei pelas palavras do próprio rapaz, um espírito de raposa encostara nele para levá-lo ao suicídio. Nuns vinte minutos terminei o exame, não sem antes ter advertido aquele espírito. O jovem, no entanto, continuava na postura anterior, de olhos cerrados e com as palmas das mãos unidas à altura do peito. Virando-se para a esquerda, inclinou a cabeça como se não compreendesse algo. Passados uns três ou quatro minutos, abriu os olhos, mas continuou de cabeça inclinada. Disse então: "Vi uma coisa bastante estranha. Alguém ao meu lado estava tocando "koto" (3)(### "Koto": instrumento musical de corda, tipicamente japonês ###), e o som desse instrumento era extraordinariamente belo e nobre. Embevecido, eu olhava à minha volta e notei que estava num lugar que me pareceu o interior de um santuário muito espaçoso. No fundo havia uma escada que levava a uma sala toda acortinada. Aí, o senhor, vestido com trajes litúrgicos, subiu a escada suavemente e entrou na sala".

Ouvindo isso, eu comentei: "Se você viu a pessoa de costas, não podia ter reconhecido quem era". Mas ele confirmou: "Tenho a certeza de que era o senhor". E descreveu a indumentária que, segundo disse, era constituída de chapéu, blusa azul e calça vermelha. Ele pôde "ver" isso porque, momentaneamente, teve a faculdade de visão espiritual. Esse rapaz era empregado de uma loja e não professava nenhuma Fé, não tinha nenhum conhecimento sobre assuntos espirituais; portanto, creio que o seu relato merece ainda mais confiança. Ressalta-se que à esquerda do lugar onde ele estava sentado ficava o Altar.

Os três exemplos citados poderão servir de ilustração para o conhecimento do interior e do exterior da morada celeste, e também para comprovação da descida de seus habitantes.

Em seguida, escreverei sobre as condições do Paraíso Búdico.

Uma moça virgem, de dezoito anos, serviu de médium, incorporando o espírito de um de seus ancestrais, um samurai que falecera numa batalha travada há mais de duzentos anos. Fora ardoroso adepto do budismo e pouco depois de falecido entrou na seita fundada por Kobo Daishi. Em resposta às minhas perguntas, ele disse:

"Quando eu cheguei aqui, havia uns quinhentos ou seiscentos espíritos, mas, ano após ano, reencarnavam mais espíritos do que entravam, de modo que agora só existem mais ou menos cem.

Moramos numa casa grande, mas não há serviço propriamente dito, e passamos as horas divertindo-nos: tocamos "koto", "shamissen" (4)(### "Shamissen": espécie de violão ###), flauta, tambor e outros instrumentos musicais; pintamos, esculpimos, lemos, escrevemos, jogamos xadrez, cartas, etc., ou divertimo-nos de outras maneiras que também existem no Mundo Material. De vez em quando há palestras feitas pelo próprio Kobo Daishi e por outros espíritos, e isso constitui a maior das alegrias para nós. Às vezes Kobo Daishi encontra-se com Buda, mas este, segundo ele diz, está num nível acima do Paraíso, onde a luz é muito intensa; quase não se pode olhar para cima, de tão ofuscante que ela é.

Fora da casa, há um grande lago em cuja superfície bóiam inúmeras "hassu no ha" (folhas semelhantes à vitória-régia do Rio Amazonas), tão grandes que nelas cabem duas pessoas. A maioria é ocupada por casais, que nem precisam remar para se dirigir ao local aonde desejam ir. Não há noite; é sempre dia, e a claridade é um pouco inferior à do dia claro. O sol é semelhante ao do Mundo Material, e seus raios luminosos, purpurinos e suaves, provocam uma sensação agradável".

Em muitas oportunidades ouvi os espíritos que habitam o Paraíso Búdico dizer que se sentem entediados quando já se encontram ali há muito tempo. Como estão sempre se divertindo, acabam perdendo o interesse e por isso manifestam o desejo de serem transferidos do Mundo Búdico para o Mundo Divino. Não foram poucos os espíritos que transferi para este último, atendendo a seus pedidos. Tal desejo é motivado pelo fato de saberem que o Mundo Divino entrou recentemente numa fase de grande atividade e que todas as divindades e espíritos estão extremamente atarefados. Não preciso dizer que isso se deve à aproximação da Era do Dia, que é regida por Deus, ao passo que a da Noite era regida por Buda.

Passemos, agora, ao Plano Inferior.

O mais baixo dos três níveis que constituem o Plano Inferior é chamado pelos xintoístas "Nezoko no Kuni" (Reino do Fundo da Raiz); os budistas o chamam de "Gokukan Jigoku" (Inferno de Frio Extremo), e no Ocidente dão-lhe o nome de Inferno. Mas, seja qual for a designação, é um local completamente escuro e gelado. O espírito que cair aí, fica sem enxergar nada durante dezenas ou centenas de anos; petrificado pelo frio intenso, não pode se mover nem um centímetro. Sua situação é tão lastimável, que não encontro adjetivos para descrevê-la. O que eu ouvi de um espírito salvo desse local fez-me arrepiar os cabelos. O gélido Inferno retratado por Dante Alighieri na "Divina Comédia" não é absolutamente nenhuma fantasia.

O nível médio do Plano Inferior é o local onde existe carnificina, desejo carnal animalesco, fome, monte de agulhas, lagoa de sangue, poço de serpentes, sala das abelhas e das formigas e outras coisas de que se costuma falar. Os demônios encarregados da vigilância assemelham-se àqueles que vemos nos desenhos, pintados de verde ou vermelho.

Um dos castigos do Inferno consiste em açoitar os espíritos com barras de ferros cheias de espinhos. Segundo eles relatam, a dor é muito maior do que se fosse no corpo carnal, porque, sem a proteção deste, a parte espiritual correspondente aos nervos é atingida diretamente.

Darei mais alguns exemplos de sofrimentos infernais.

Monte de agulhas, a própria expressão já está dizendo o que é: os espíritos são obrigados a andar descalços em cima de agulhas, e a dor que sentem é algo indescritível.

A lagoa de sangue é o lugar para onde vão obrigatoriamente os espíritos das pessoas cuja morte foi motivada por gravidez ou parto. Pelo que ouvi de muitos espíritos, eles ficam submersos até o pescoço nessa lagoa, o ar está impregnado do cheiro de sangue, e continuamente uma infinidade de insetos e vermes sobem até o seu rosto, provocando uma sensação tão horrível que eles se vêem incessantemente obrigados a tirá-los com a mão. Esse sofrimento geralmente dura mais ou menos trinta anos.

Quanto à sala de abelhas, foi descrita pelo espírito de uma gueixa que incorporou no empregado de um salão de beleza. Os espíritos são colocados dentro de uma caixa onde mal cabe uma pessoa, e inúmeras abelhas picam todo o seu corpo, causando-lhes um sofrimento espantoso.

O castigo do fogo é infligido àqueles que morreram queimados ou se atiraram na cratera de um vulcão ativo.

Vou relatar um caso sobre esse castigo.

Um homem de meia-idade sofria de epilepsia causada por fogo. Ele conta que, à noite, deitava-se na cama e adormecia, mas à meia-noite despertava. Então, a uns dez metros de distância, enxergava labaredas que cada vez se tornavam mais próximas. Quando chegavam bem perto, ele tinha um espasmo e ficava com uma febre altíssima. Sentia todo o corpo queimar e entrava em transe. Isso havia começado no ano seguinte ao Grande Terremoto, razão pela qual se pode concluir que, em outra vida, ele morrera carbonizado por ocasião de um terremoto.

Relações carnais impuras entre homem e mulher fazem com que os espíritos caiam no Inferno, mas a situação varia de acordo com a gravidade do caso. Por exemplo: quando eles se suicidam por amor, os espíritos de ambos ficam ligados e não podem se separar. Isso é causado pelo desejo que tiveram de permanecer sempre juntos. Os que se suicidam abraçados ficam grudados, sentindo uma vergonha tão grande, que se arrependem seriamente. Às vezes lemos nos jornais a notícia do nascimento de gêmeos ligados por uma parte do corpo; geralmente se trata da reencarnação de um casal que se suicidou por amor. Em casos de amor abomináveis - por exemplo, entre pais e filhos, entre irmãos, entre alunos e professores, etc. - os espíritos também ficam grudados, mas, enquanto um permanece de pé, o outro fica de cabeça para baixo. O incômodo e a vergonha a que os espíritos se expõem levam-nos a um profundo arrependimento.

Diante de tudo isso, poderão entender o equívoco daqueles que, por causa de um amor impossível, recorrem ao suicídio acreditando poderem alcançar a felicidade no Céu. Pode-se, também, compreender claramente a justiça reinante no Mundo Espiritual.

É preciso saber ainda o que acontece com os que são avarentos no Mundo Material, apesar de possuírem muito dinheiro. Trata-se de pessoas materialmente ricas, mas espiritualmente pobres. Passando para o Mundo Espiritual, ficam numa situação de penúria e reconhecem seu erro. Outros, porém, no Mundo Material, têm um nível de vida inferior ao da classe média, mas se contentam com o que têm, vivendo a vida cotidiana cheios de gratidão e empregando suas economias em obras que visam à salvação da humanidade. Ao entrarem no Mundo Espiritual, tornam-se ricos e vivem muito felizes.

Mas existe outra causa para o empobrecimento dos milionários. Há pessoas que não desembolsam o dinheiro que deveriam desembolsar ou não pagam o que deveriam pagar, e isso constitui uma espécie de roubo; espiritualmente, estão acumulando dinheiro furtado, a que se acrescentam juros. O resultado é que os bens vão se esgotando, e, pela Lei do Espírito Precede a Matéria, um dia essas pessoas acabam perdendo tudo o que têm. Muitas vezes vemos o herdeiro de um novo-rico esbanjar toda a fortuna da família por incapacidade ou imoralidade, mas, conhecendo o princípio acima referido, poderão compreender por que isso acontece.

Falemos agora sobre o nível mais alto do Plano Inferior.

É o local para onde vão os espíritos que estão prestes a alcançar o Plano Intermediário, após terem sofrido os castigos infernais. Por conseguinte, os trabalhos a que estão submetidos são de natureza leve, como, por exemplo, servir os alimentos oferecidos nas Moradas dos Ancestrais, consagrados nas casas dos seus descendentes, levar mensagens, dar assistência a outros espíritos, etc. A propósito, convém saber algo a respeito dos alimentos ofertados aos espíritos.

Embora desencarnado, o espírito sente fome se não se alimentar. Mas em que consiste esse alimento? O espírito serve-se do espírito dos alimentos; entretanto, ao contrário do que acontece no Mundo Material, ele se satisfaz com pouca quantidade de comida. Sua alimentação diária consta de uns três grãos de arroz. Portanto, a comida comumente ofertada nos lares dá para um grande número de espíritos e ainda sobra muito. As sobras são dadas àqueles que se encontram na camada dos famintos. Graças a isso, os espíritos ligados a essa família elevam-se mais rapidamente.

Sempre que possível devemos oferecer alimentos aos antepassados, pois, levados pela fome, eles podem se ver forçados a roubar para comer, e, conseqüentemente, cair no Inferno ou encostar em animais, como cão ou gato. Quando o branco se mistura com o vermelho, fica vermelho, e o mesmo acontece quando o espírito humano encosta em animais: vai se degradando progressivamente até que se animaliza. Quando ocorre a reencarnação de um espírito híbrido de homem e animal, o corpo toma a forma desse animal. Existem cavalos, cães, gatos, raposas, texugos e serpentes que entendem o que os homens dizem: trata-se da reencarnação de espíritos híbridos. Sob forma animal, eles são obrigados a um certo grau de aprimoramento, terminado o qual, voltam a nascer sob forma humana.

Há ocasiões em que, após matarem cobras, gatos, etc., as pessoas são perseguidas por grandes sofrimentos. Muitos os atribuem àquele ato, e na maioria das vezes têm razão. Tratando-se de espírito humano sob forma de animal, ele se vinga; se não for o caso, isso não acontece. Na casa de famílias tradicionais, às vezes existe uma cobra de cor verde chamada comumente de "Aodaisho". Nela está reencarnado o espírito híbrido de um ancestral e de uma cobra, o qual está protegendo seus descendentes. Se estes a matarem, ela se zangará e fará sérias advertências. Caso não se dê atenção a essas advertências, poderá ocorrer a morte de um dos descendentes ou chegar-se ao extremo de ver extinta a família, razão pela qual se deve tomar muito cuidado. O mesmo pode acontecer quando se destrói o "Inari" (5)(### "Inari": Numa crença popular japonesa, capelinha onde se cultua o espírito de raposa ###) ou quando se deixa de realizar cerimônias que nele vêm sendo realizadas há muito tempo.

Citei vários exemplos, e entre os leitores provavelmente há alguém que conhece ou ouviu falar de casos que se enquadram dentro daquilo que acabo de explicar.

Vou contar uma das experiências que tive.

Uma vez fui ministrar Johrei numa casa onde havia um cão de grande porte. O dono da casa esclareceu: "Esse cão não é normal. Nunca sai para a rua, vive a maior parte do tempo dentro de casa e só se senta em almofada de seda. Se uma pessoa da família o chama, ele atende, mas o mesmo não acontece se for um empregado. Em relação à comida também é cheio de luxo, e jamais come coisas vulgares. Entende perfeitamente o que lhe falam e não gosta de ficar na cozinha nem nas salas e cômodos inferiores; em tudo, enfim, é idêntico a um ser humano". Então eu dei a seguinte explicação: "Esse cão é um ancestral seu que se degradou ao nível de vida dos irracionais, reencarnando em forma de cão. Pela afinidade espiritual, foi parar na sua casa. Por isso ele faz questão de que lhe dispensem o tratamento devido a um ancestral". O dono da casa entendeu a explicação e ficou satisfeito.

O caso seguinte, também verídico, foi vivido por um dos meus discípulos. Eis o que ele contou:

"Há uns vinte e cinco anos, tendo tomado conhecimento de que uma senhora de meia-idade, residente em Yokohama (principal porto do Japão), estava sofrendo uma tortura incomum, fiquei muito curioso e fui visitá-la. Ela usava um pano branco em volta do pescoço, e qual não foi a minha surpresa quando ela o tirou: havia uma cobra enroscada em seu pescoço! Essa cobra entendia o que lhe falávamos, e na hora das refeições a referida senhora pedia permissão para se alimentar, dizendo que limitaria a comida a uma ou duas tigelas. Nesse caso, a cobra afrouxava a pressão, mas, quando o limite prometido era ultrapassado, pressionava novamente e não a deixava comer de forma alguma. Foi a própria senhora que me contou por que aquilo acontecia.

Pouco depois do seu casamento, a sogra adoeceu, e ela não lhe dava comida, para que morresse logo. De fato a sogra acabou falecendo, mais por falta de alimento do que pela própria doença. Por esse motivo, seu espírito foi tomado de grande ódio e, para vingar-se, reencarnara sob forma de cobra e torturava a nora daquela maneira. Assim, esta queria alertar as pessoas o mais possível sobre a temeridade daquele pecado, a fim de redimir-se um pouco que fosse".

A respeito do trabalho dos animais, há um pensamento errado. O erro consiste em colocá-los no mesmo nível do ser humano. Os trabalhos que deles são exigidos, podem parecer muito cruéis do ponto de vista humano, mas não tanto como se está pensando. Bois e cavalos, por exemplo, até desejam ser maltratados, por isso caminham devagar, propositalmente, desejando ser chicoteados. Não correm por causa da dor, mas para saborear o prazer do açoite. Entre os homens, existe uma anomalia sexual conhecida como sadismo, em que as pessoas atingem o orgasmo maltratando o corpo do outro. Isso é motivado pelo encosto do espírito de animais como bois e cavalos. Sendo assim, é muito bom defender os animais, mas antes deveríamos pensar em defender os homens que são tratados desumanamente.

Para finalizar, acrescento uma explicação sobre a Moradia dos Ancestrais do Lar, do tipo budista. Seu interior representa o Paraíso, e para ali são convidados os ancestrais. No Paraíso, a comida e a bebida são fartas, há todos os tipos de flor, cujo perfume impregna o ar, e soam as músicas mais belas e suaves, de modo que se deve copiar tudo isso, oferecendo aos ancestrais alimentos, flores e incenso. Mesmo nos templos, o bater do bloco de madeira ou de pratos de metal, o toque de flautas, etc., têm efeito de música. O bater do sino na ocasião em que se oferece a comida, serve de chamada para os espíritos.

Meishu Sama em 5 de fevereiro de 1947.

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